A cozinheira

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Azeite: O óleo sagrado

Para os povos antigos, a oliveira, uma árvore pequena, mas poderosa, era um símbolo sagrado, um presente de seus deuses para os habitantes da Terra. Ao lado da videira, ela foi uma das primeiras árvores cultivadas, há mais de 5.000 anos, nas regiões do Mediterrâneo e da Ásia Menor. Tanto é que a palavra azeite deriva de um vocábulo árabe, az-zait, que significa sumo de azeitona. Fenícios, sírios e armênios foram os primeiros povos a consumir o alimento. Entretanto, coube aos romanos levar o óleo sagrado dos hebreus para a Europa. No continente europeu, por muitos séculos, seu uso ficou restrito aos povos mediterrâneos, como italianos, portugueses e espanhóis. Porém, a partir da era das grandes navegações nos séculos XVI, o azeite chegou ao Novo Mundo pelas mãos dos conquistadores e caiu nas graças dos povos chilenos, peruanos e mexicanos.
Invenções dos deuses
A oliveira tinha tanta importância na cultura grega que, segundo a mitologia, nasceu de uma disputa entre dois habitantes do Olimpo. Posseidon e Palas Atena brigavam pela honra de batizar a cidade que viria ser o berço de uma das maiores civilizações da História. Na competição, o deus dos mares, com um golpe de seu tridente, fez surgir um belo e forte cavalo, o animal da guerra. Atena, por sua vez, com a ponta de sua lança, criou a oliveira, cujos frutos produziam um óleo capaz de iluminar a noite, suavizar a dor dos feridos e ainda servir como alimento precioso, rico em sabor e energia. Gratos pelo presente, os gregos passaram a adorar Atena como a deusa da agricultura e deram seu nome à nova cidade que estavam construindo.
Os italianos também disputaram a primazia de ter cultivado a primeira oliveira, justamente aquela à qual à sombra da qual Rômulo e Remo, os fundadores de Roma, viram a luz do dia pela primeira vez. Assim, cada povo atribuiu aos seus deuses a criação dessa árvore que se tornou o símbolo do sagrado.
Ritos religiosos
Conta o livro de Gênesis que, quando as chuvas do dilúvio cessaram, o patriarca Noé teria soltado uma pomba, que retornou trazendo um ramo de oliveira, sinal de que Deus estava em paz com os homens. A Torah, livro sagrado dos hebreus, ensina que as oferendas preferidas de Deus, a flor de farinha perfumada com incenso, as obreias, bolos muito finos feitos sem fermento, e os grãos de cereais tostados deveriam, antes de ser ofertados, ser enriquecidos com azeite. Para os hebreus, o azeite representava a presença de Deus entre os homens e o sentimento de alegria. Por outro lado, sua falta denuncia a tristeza e humilhação. Tanto é que o Novo Testamento relata o sofrimento e a humilhação de Jesus durante a prisão no Getsêmani, ou Jardim das Oliveiras. A escolha do local traduzia com exatidão o que estava acontecendo com Jesus momentos antes de ser crucificado. A falta do azeite simbolizava seu sacrifício em prol da humanidade.
Mil e uma utilidades
A primeira referência do uso do azeite como medicação data do século VII antes de Cristo. Os povos da Mesopotâmia, região onde hoje fica o Iraque, untavam o corpo com ele para se proteger do frio e usavam o óleo para aliviar a dor e curar feridas. Por isso, era fundamental nas guerras. Na Grécia antiga, atletas já utilizavam o azeite como base para melhorar seu desempenho.
Séculos mais tarde, as frívolas e elegantes senhoras do Império Romano lançavam mão do azeite para funções menos nobres, porém igualmente importantes para suas vidas. Era o óleo das olivas que amaciava a pele e cabelos, iluminava as casas, impermeabilizava as fibras que iam nos teares e até lubrificavam as ferramentas para as colheitas. Na época dos grandes descobrimentos, ele era obrigatório nos navios, utilizado com base para o preparo de diversos medicamentos. Atualmente, inúmeras pesquisas comprovam os grandes benefícios que o azeite de oliva pode oferecer ao bom funcionamento do organismo. Graças a seus ácidos graxos monoinsaturados, é considerado um grande aliado da saúde do coração, pois diminui a produção de LDL, o mau colesterol, e ainda estimula a produção do bom colesterol, o HDL, que limpa os vasos das gorduras maléficas. Por tudo isso, o azeite não pode faltar à mesa. Seu coração agradece!
Rose Mercatelli

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